Escrever um marco da situação
em que se encontra a sociedade em tempos atuais não é uma tarefa nada fácil. Ainda
que a ordem estabelecida seja homogênea, quando se fala da situação mundial já está
dizendo que de onde se fala se acompanha a mesma situação que a ordem global.
De outra forma também pode-se pensar que quando se fala de certo lugar, tem que
levar em consideração todas as consequências que é falar de um lugar próprio, e
mais, quem fala sempre fala de um ponto de vista, com afirma Leonardo Boff
“cada ponto de vista é vista de um ponto.” Em outras palavras é dizer que falar
da situação do mundo a partir de um ponto estabelecido, no caso o Brasil, não é
a mesma coisa de falar de fora do Brasil, por conseguinte é diferente falar de uma
situação de um determinado lugar no Brasil, como no Paraná, e perceber os
mesmos aspectos em um estado do nordeste. Em suma a visão que pode ser expressa
tem que levar em consideração todos os contextos e pretextos de onde se fala
para quem se fala e qual o referencial a se falar, e quem fala da situação.
Estando localizados pode-se
agora pensar em alguns parâmetros para essa análise, pois a mesma levará em
conta alguns aspectos. Em primeiro falar-se-á das mudanças em geral que o mundo
está passando, e que vários autores identificam como crises que está
transformando o tempo atual. Depois, perceber a situação juvenil que está em um
momento de ganho de garantia de direitos, contudo será explorado neste item
toda a relação que está embutida no tema juvenil, como família, sociedade,
direitos, deveres, etc. por fim, se dará uma tentativa de entrelaçamento buscando
perceber como anda as questões de Brasil dentro da ordem governamental, social,
econômica, cultural e educacional, tomando como parâmetro os itens acima a fim
de fazer uma síntese da situação.
1. Mudança de Época - Crises Instituidas
Quais as mudanças que o mundo
está vivendo na atualidade? A pergunta se faz jus partindo do princípio que
atualmente a humanidade está vivenciando diversas crises. Verifica-se neste
enredo de crises uma ambivalência, isto é, o de decidir por e para onde
caminhar. Também se legitima a questão à cima partindo do pressuposto de alguns
autores que identifica essa época, não de época de mudanças, mas uma mudança de
época. Edgar Morin vai ser o expoente nesta afirmação. O progresso obtido nas
últimas décadas, pela sociedade, foram intensos e rápidos, e para muitas dessas
mudanças, à sociedade não só não estava preparada, mas a aceitou sem
pré-requisitos não se dando conta das consequências ou percebendo as mesmas
tardiamente. Segundo Morin (2007. Pág. 107)
Devemos tomar consciência
de que vivemos uma comunidade de destino planetário, face às ameaças globais
trazidas pela proliferação das armas nucleares, pelo desencadeamento dos
conflitos étnico-religiosos, pela degradação da biosfera pelo fluxo ambivalente
de uma economia mundial descontrolada, pela tirania do dinheiro, pela união de
uma barbárie vinda dos confins dos tempos, pela barbárie congelada do cálculo
técnico e econômico.
A crise, entre as crises, é
identificada por Zygmunt Bauman como morte de uma época e o não nascimento de
outra, ou seja, a ambivalência cultural que forja a falta de alternativas,
segundo Bauman (2008. Pág. 78):
Ambivalência, ambiguidade,
equivocidade... Estas palavras transmitem um sentimento de mistério e enigmas;
também sinalizam em problema cujo nome é incerteza, e um estado mental
desolador chamado indecisão ou hesitação. Quando dizemos que coisas ou
situações são ambivalentes, o que desejamos dizer é que não podemos estar
certos do que vai acontecer nem saber como nos comportar, tampouco prever qual
será o resultado de nossas ações.
O morbismo que se encontra neste espaço criado
pela ambivalência é que vai mudando a nova ordem que caracterizada por época. Essa
intuição já está presente no pensamento gramscianiano, mas está muito bem
articulada na obra de Karl Polanyi, “A Grande Transformação”
que descreve como, e qual foi o caminho que se enveredou historicamente a
sociedade para que o capitalismo fosse forjado como estrutura econômica da ordem
social mundial. Nesta obra ele já anuncia que o capitalismo é uma ordem “
nati” morta, mas que persiste por
rearticular novos meios para manter-se como paradigma de estruturação das
nações. Isso também porque o capitalismo influenciou diretamente o sujeito na
sua concepção de vida. (POLANYI. 2000)
Todos os intelectuais que
tratam das concepções mundiais do capitalismo têm por fundamento direta e indiretamente
a concepção de Karl Polanyi. As estruturas capitalistas nas suas vertentes
liberal e neoliberal podem estar ultrapassadas, mas ordem mundial ainda não
encontrou sua dinâmica para viabilizar uma nova conduta, e isso tem suas
causas. Isso é o que tentaremos analisar.
1.1 As crises
instituídas
Como dito a
cima o mundo passa por diversas crises. Essas crises são fruto de um momento
histórico mundial, onde alguns parâmetros da vida social tem se perdido na nova
concepção de vida moderna. Alguns parâmetros estão perdidos por completo sem
ter outros para substitui-lo, outros em via de transformação, outros perdidos
no espaço e no tempo buscando encaixar-se em alguns planos.
1.1.1
Crise das instituições
Qual é o
papel das instituições hoje, visto que, durantes séculos foram capazes de
conduzir o sujeito para uma organização social, com parâmetros regulatórios
para a sociedade?
A crise das
instituições está relacionada diretamente a crise do individuo que está formulando
uma nova relação na sociedade pós-moderna. Essas crises poderiam está mensurada
com o que Nietzsche pensava sobre a moral taduzido na sua obra ”Além do bem e
do mal”. Entre tantas instituições, sobressai uma que é célula primordial da
sociedade; a família. O presesuposto aqui é ideário de família composta pela
revolução industrial, conhecido como célula familiar, pai mãe filhos. Este
pressuposto se faz entender que antes da revolução o que interpretamos como
família não tinha o mesmo ajuste pensado com a revolução industrial, e o
capitalismo moderno, mas a vivencia em geral de clãs. (SCHINELLO 2011). Com a
desestruturação deste modelo, encontra-se um alto número de filhos fora do
casamento, e por consequência as separações, como também diminuíram o número de
casamento civil e religioso, bem como as uniões estáveis. Por conseguinte
aumenta um numero de uniões homo afetivas com direitos de adoção, e vê-se a
necessidade de uma orientação para o entendimento e respeito à diversidade e
liberdade sexual. Não que isso seja mal, ao contrário, podemos presumir que a
sociedade esta aceitando a diferença, dessa maneira vê-se aumentar o número de
relações homo afetivas. Por isso neste momento urge uma compreensão destes
fenômenos, pois eles implicam diretamente na vida social da criança, do
adolescente com repercussão direta na juventude. A crise na instituição família
está para além do que é representado nas uniões quer seja hétero ou homo, mas
está na concepção de um novo olhar para o que denominamos de família. Se no
passado era a ludibriação da verdade, com casamentos permanecendo unidos
somente por uma responsabilidade moral patriarcal, tendo a mulher como vítima
deste pensamento, hoje com a aquisição de direitos das mulheres, não há como
tolerar tais situações. São propositivos tais direitos, pois não é possível que
uma sociedade permitisse que a mulher carregasse o fardo de ser, esposa, mãe,
dona de casa, e ainda trabalhar fora, com muitas vezes sendo tratada pelo seu
companheiro apenas como objeto sexual, apesar destes âmbitos há muito ainda que
as mulheres conquistar. Segundo Kahale e liebesny:
A família - como espaço de cuidados e de afetos - é
crucial nessa etapa ‘multideterminada’ escolhas e projetos. Ela pode ser
catalisadora de projetos mais autônomos quando questiona abre espaços para
reflexão e crítica dos valores da ideologia dominante. Por outro lado, ela
poderá ser um elemento de pressão de reprodução dessa ideologia ao determina o
que o jovem deve escolher pra sua vida, muitas vezes almejando reconstruir a
história da própria família através das novas gerações.
A ordem
familiar hoje apesar de serem múltiplas, tem como paradigma um novo contexto, o
de estar em pé de igualdade homens e mulheres, ou realidades homo afetiva, que,
encontra na pessoa do mesmo sexo uma relação de respeito e carinho. Tanto uma e
outra se equilibrada, com parâmetros de respeito mútuo e clareza nas relações
podem ser excelentes ambientes para educação da criança e do adolescente.
A igreja
é outra
instituição que passa por uma convulsão generalizada. Aqui vamos colocar como
expoente as igrejas históricas
das quais a Igreja católica romana
é
a mais “atrasada” em algumas concepções, contudo há de se compreender este
atraso, e não queremos julgar aqui se é certo ou não. A ICAR tem seus motivos,
e possa vir a ser que a história julgue que em alguns temas ela teve razão. Não
vamos abordar de início as igrejas pentecostais e neopentecostais, por serem
grupos distintos dentro dos grupos cristãos.
Vemos hoje
nas igrejas históricas se abrindo para muitas realidades da sociedade que
merecem uma nova abordagem. A questão de gênero, a tolerância religiosa, o
ecumenismo, a diversidade entre tantos outros fatores. Muitos elevam a crítica
ICAR, por ainda não se adequar as exigências da nova sociedade. Contudo á de se
fazer uma defesa da mesma, pois uma instituição milenar, tendo como seguidores
mais de setenta por cento da população mundial não pode se colocar a mudanças
sem critérios. Para que a ICAR possa pensar em mudar precisa-se de muito
diálogo e estudo, pois quando toma como decisão a mudança não será para dentro
de cinco anos reavaliar, mas perpetuar por muitas gerações, isso também não é
para eximir de culpa os erros que ela cometeu durante a história recente, e por
isso está pagando um preço amargo. Mas perceber que dentro do seio da própria
igreja existem aqueles com posturas diversas, que divergem enormemente um do
outro, e mesmo assim ela os acolhe. Também não podemos deixar de criticar sua
postura ante os mais progressivos, como denunciou Hans Kung
para uma pequena plateia de professores e teólogos na Universidade do Rio dos Sinos
em São Leopoldo
, Rio Grande do Sul,
segundo Kung, há hoje na Europa certa de mais de trezentos teólogos silenciados
pela ICAR. É uma denuncia grave, de falta de liberdade de expressão dentro de
uma instituição como a ICAR.
Todavia a
crise que envolve as igrejas históricas é a mesma a crise de fé que perpassa a
sociedade contemporânea. Esta crise tem suas raízes no individualismo
exacerbado pelo capitalismo, e degradação da moral coletiva que foi politizada pelo
acesso a informação nem sempre bem contextualizada. Por outro lado a
relativização da sociedade para algumas posturas religiosas contribuíram para o
esvaziamento da fé na sociedade pós-moderna.
Contudo
vemos um paradoxo na expressão de religiosidade mundial. Basta lembrar como se
instalou o caos em Roma na morte do pontífice João Paulo II. Foi expressão de
uma Europa dessacralizada e ateia, que vive buscando referenciais para sua
explicitação de fé, mas vivida individualmente, o paradoxo está em homenagear
um homem que tanto enfatizou a vida cristã em comunidade, por milhões de
pessoas individualistas.
Se no
passado a igreja era uma referência para poder organizar a sociedade, bem como
dirigi-la na conduta moral e para acreditar em um Deus que propagava o bem,
hoje a igreja têm poucos adeptos e a cada dia o esvaziamento das mesmas se dá
em locais mais politizados. Pode ser uma afirmação simplória e ainda não
comprovada cientificamente, mas quanto mais politizada e com um nível econômico
melhor de vida, mais a participação na igreja decresce. Talvez não seja uma
crise de fé, mas sim de valores da fé, pois na maioria das vezes não é a falta
de fé em um Deus, mas uma maneira diferente de acreditar, isto é, acreditar em
um Deus pessoal e individualista. Bem para o cristão essa é uma maneira totalmente
equivocada de viver a fé cristã. Talvez isso não soe importante, ou não tenha
muito haver com uma analise de crise, contudo quando perpassamos no recorte da
juventude isso traz consequências preocupantes.
A falta de uma fé consistente
pode vir a formar jovens sem alteridade. Ora, um jovem formado na concepção
individualista, sendo filho único, sem uma concepção moral que decorre de uma
fé, seja em que Deus que for, terá ele uma vida interior e psicologicamente
saudável? A resposta se encontrará no futuro não muito distante, ou quem sabe
já vemos lampejos dessa postura em sala de aula.
Outra instituição que vive uma
crise velada é a educação. Não falaremos aqui das inúmeras defasagens na
política educacional. Vamos tomar como recorte três aspectos, a relação entre
educadores e pais, o educador, e o educando.
É muito preocupante o que
condiciona a relação de pais e educadores. De fundo está à falta de
posicionamento dos atores principais. Isto porque se inverteram alguns os papéis.
O educador é responsável em fazer o educando a ter conhecimento, e os pais
colaborando com isso deve formar nos seus filhos o respeito, a alteridade,
entre outro tantos valores. Contudo os educadores em ambiente escolar não só
tem que produzir conhecimento, como ensinar fundamentos básicos do
comportamento e do melhor agir, contudo nem sempre os educandos aceitam. A sala
de aula deixa ser um espaço de conhecimento para ser um ambiente de disputa de
poder, isso porque a função do educador ainda na função social de seu papel já
está esgotado e ultrapassado, e com isso atitudes totalitárias tende a ser
respondida no mesmo tom. Segundo Margarete (2009. Pag. 29)
“É preciso que se dê
Ensino/Educação, espaços para a flexibilidade, para a realização de
experiências alternativas, curricularizando a matemática da fome a geografia e
a história da exploração dos problemas sociais, o português da violência e do
preconceito, os dialetos populares que são a verdadeira língua falada, a
ciência da história da vida real das pessoas...”
Em outras palavras é preciso
trazer a realidade para dentro de sala de aula, e começar a tratar dos assuntos
que envolvem os educandos, partindo do pressuposto da formação do conhecimento
a partir da dialogicidade.
1.
2.
2.1.
2.1.1.
2.1.2. Crise Social
A crise social permeia a
volatilidade que a sociedade perpassa. Em outras palavras, podemos compreender
como já dito que no centro está a ambivalência. O contexto empregado nesta
situação, também já dito, é que é a estrutura macro econômica dos fundamentos
do capitalismo, está deslocado do momento histórico, isto é, uma força
supranacional que falhou, não vingou e não equaciona a realidade da sociedade dentro
do parâmetro mundial, vigora mesmo morta.
A crise econômica ocorrida há
poucos anos foi o ápice desta situação. O que a maioria dos países de grande
economia pregava que o mercado não precisava de regulamentação e de intervenção
do estado caiu por terra. Essa foi uma das verdades pregada durante anos. Outro
fator que caiu por terra, foi a de que os países não tem dinheiro para aplicar
seja onde for. Para conter a crise, inúmeros foram os países que despejaram
dinheiro no setor econômico para não deixar os grandes bancos e empresas
quebrarem. Até mesmo o Brasil acabou dando uma colaboração ao FMI emprestando
dinheiro ao mesmo.
Contudo Brasil foi diferente a
crise. Com as medidas tomadas pela equipe econômica a crise que devastou os
países chegou aqui como “uma marolinha”
.
Comprovou-se mais tarde que Lula tinha razão. Contudo a crise de início foi uma
grande possibilidade para poder destacar que muitos dos críticos deste modelo
econômico tinham razão, em especial os dos movimentos sociais. Para estes
grupos o Brasil, venceu a crise, mas não superou os problemas cadentes, e ainda
perdeu a oportunidade de fazer mudanças necessárias e de grande complexidade
para demonstrar que o sistema econômico vigente não tinha razão. Um exemplo foi
à situação automobilística. Quando dentro da crise se incentivou a consumo na
compra de carro, o governo poderia ter apostado em sistema de transporte público
eficiente e condizente com o país que vivemos. Mas ao contrário o incentivo
aumentou o consumo de carro, e assim não se resolveu o problema do transporte
público, aumentou o numero de carros trafegando que por consequência aumenta os
engarrafamentos nas grandes e medias cidades, além do aumento a poluição.
No âmbito da crise, o Brasil
aproveitou da situação, com a forte marca perpetrada pela figura do presidente
Lula e o ministro das relações exteriores do Brasil, para poder pressionar os
países ricos para ampliar horizontes na busca de soluções e garantias para uma
economia mais voltada a se preocupar com as economias emergentes. Foi dessa
maneira que forçou o fim do G8 para dar lugar ao G20.
A crise social também passa
pela crise de valores. Não é somente mudanças e valores é realmente uma crise.
Claro, está em jogo o pensamento do passado em choque com a visão do presente.
Em primeiro lugar é bom ficar claro que valor, enquanto valor não é de ordem
natural, então eles podem modificar. Contudo o que acontece hoje é uma
distorção de valores, com o qual não conseguimos ver nítido onde está a
mudança, mas sabemos da falta que se tem em determinados valores.
Entre tantos valores tem
alguns que devem chamar nossa atenção como, por exemplo, a alteridade que
deveria ser um valor intrínseco ao ser humano, foi aniquilada pela visão
individualista que se criou na sociedade. Hoje muitos dizem que não houve tanta
revolta contra guerras surgidas em tantos lugares, nunca houve tantas
manifestações contra conflitos. Bem realmente houve isso, mas, esse é um novo
valor que está nascendo em detrimento a tantos que passam fome em tantos locais
no mundo. Não há grandes manifestações em favor do combate a fome na Ásia e da
África. Esse tipo de alteridade coletiva
pode ser um meio de desencargo de consciência. Podemos comparar isso há tantas
situações que continuam sem ninguém sê lembrar. Já nos acostumamos com os
conflitos? E onde fica o repudio contra os israelenses e o muro que constrói
para separar Israel dos palestinos? No Brasil se denotou uma grande solidariedade
com os flagelos que aconteceram em alguns estados pelas catástrofes naturais.
Essa solidariedade foi acompanhada de grande produto midiático, que ressaltou
inúmeras vezes a ação dos que estavam sendo solidários. Por conseguinte como
está a situação nordestina durante anos? Qual a situação de parte do Piauí,
onde uma refeição por dia é o que conta uma família? A solidariedade também é perceptível no meio
midiático das telecomunicações. As campanhas: Criança Esperança e o Teleton são
os meio visíveis e mais difundidos e divulgados para ajudarem “as crianças” do
Brasil. As arrecadações destas campanhas, não passam de sensibilização
emocional e arrecadação de dinheiro. A contribuição causa naquele que contribui
uma sensação desobriga, de papel cumprido. No dia a dia pouco importa as
crianças do seu bairro estão tendo dignidade na educação, se cumprem os seus
direitos básicos, e ainda sê há alguma criança na rua, ou passando fome. Isso
não é problema dele, afinal já contribuiu com as campanhas de solidariedade.
Duas reflexões se podem tirar
dessas situações, comparando-se aos valores instituídos na sociedade; O
primeiro é que se terceirizou a solidariedade e colocaram a alteridade debaixo
do tapete. O compromisso ético para com o outro é delegado a uma solidariedade
sem sair de casa. Terceiriza-se o
problema para que não haja incomodação. Por outro lado o compromisso social que
tem as empresas que fazem este tipo de arrecadação, não se percebe uma
preocupação realmente social, a não ser que ela seja meio de melhor
comercializar seu produto. Em outras palavras; ter compromisso social eleva o
faturamento da empresa. Segundo Lipovetsky (2004).
Sem duvidas é preciso renascer
um novo parâmetro de sociedade altruísta. Mas que leve a possibilidade de
homens e mulheres conviverem e sê perceberem enquanto seres humanos habitantes
do mesmo mundo.
A politica é outra instituição
que há muito está em crise. Em âmbito nacional vemos tantas marcas
significativas de continuidade, mas também de mudança nos últimos oito anos.
Para exemplificar podemos elencar quatro situações; as duas primeiras demonstrando
que a Europa continua conservadora é o exemplo de Nicolas Sarkozy na França que
reelegeu seu sucessor para 1º ministro e em seguida foi eleito presidente da
França, os ataques ao Silvio Berlusconi na Itália que se perpetua com o poder
midiático, duas outras demonstram que foi significativo para o mundo ter
eleição de um torneiro mecânico, Luís Inácio Lula da Silva, para a presidência
do maior país da América do Sul, e a eleição de Barack Obama, o primeiro
presidente negro dos Estados Unidos.
Por conseguinte muitas são
outras situações mundiais que preocupam a geopolítica e que não há muito o que
pensar nesta direção. Pode-se destacar entre outras situações o problema
judeu-palestino em Israel, a fome em vários países da África, as calamidades
que enfrentam diversos países como pouco ajuda humanitária, como é o caso de
alguns países da Ásia e América Central, a china e seu fechamento ao diálogo
sobre os direitos humanos, a questão do Tibet, a invasão do Iraque e
Afeganistão, a falta punição sobre aqueles que mentiram sobre as fabricas de
arma de destruição em massa, o narcotráfico na Bolívia ou uma desculpa para que
os Estados Unidos intervenha nas questões das Américas, o contínuo ataques
verbais entre países da América do Sul envolvendo a Venezuela, equador, Peru e
Bolívia, a falta de diálogo com Irã e outros países que tem o talibã como forma
de governo, e nos últimos tempos o crescente tensão entre as duas Coreias. Em
todas estas questões ainda está à reformulação da ONU que há muito é pedido
pelos países em emergência.
Contudo houve uma marca na
ultima década que pontuou a discussão de maneira global o surgimento do Fórum
Social Mundial
(FSM) em contra ponto ao
Fórum de Davos.
O FSM teve sua primeira edição
em Porto Alegre em 2001. A repercussão e a participação no mesmo, com cerca de
4.700 delegados de 117 países, e em torno de 20.000 participantes, foi
festejada pelos organizadores e assim marcou o contraponto ao Fórum Econômico
Mundial de Davos na suíça que é organizado pela ONU e financiado por mais de
1000 empresas.
O FSM tornou-se um referencial
contraponto a política neoliberal mundial. A segunda edição do fórum
surpreendeu os organizadores com 12.274 delegados de 123 países, e cerca de 50
mil participantes mais que o dobro. O terceiro bateu todos os recordes com mais
de 20.000 delegados e 100.000 participantes sem contar os 25.000 jovens do
acampamento da juventude
. O
sucesso desta organização se vale com inúmeras discussões que são voltadas e o
intercambio dos diferentes países. A postura de se encontrar anualmente para
pautar as ações de que “outro mundo é possível”
destaca para que a política mundial tenha saídas e que há pessoas em participar
desta mudança.
A situação da politica no
Brasil pose ser compreendia na recente eleição pode servir de parâmetro para
essa abordagem. As diferenças regionais dão pauta para o processo de uma política
suprapartidária. Por conseguinte a frustração nesta instituição vive-se no
paradigma da honestidade. O PT chegou à presidência e nele estava carregada a
esperança de uma nova forma de encarar a situação. Houve mudanças no que se
refere à impunidade e a investigação. Nunca se houve tantas investigações na
policia federal e tantos políticos presos por corrupção, trafico de influências
e tantas outras situações. Por outro lado o escândalo do mensalão que foi a
continuidade do velho jeito de se garantir maioria no governo, mas que foi
apresentada como prática única e exclusiva do PT. Talvez haja uma analise
errônea da sociedade em muitos casos. Ainda que alguém subordinado a uma pessoa
faça o mal feito, não podemos imputar culpa ao que está diretamente ligado ao
mesmo. Contudo as alçadas de poder pode demonstrar quem realmente é tal pessoa.
Nas palavras de Frei Beto um dos assessores especiais da presidência nos
primeiros dois anos do governo Lula “o poder não muda as pessoas, ele só mostra
realmente quem eles são”.
É iminente a necessidade de
uma reforma políitica no Brasil, ou irá se assistir as alianças fisiológicas
como se viu na ultima disputa das alianças para a presidência do Brasil. Ainda
que ela seja pragmática, sabemos no fundo que ela é fisiológica e corrupta.
Contudo enquanto estivermos na estrutura política que há necessidade de
governabilidade, vamos assistir estas situações. Segundo Chauí (citar a caros
amigos)
Por conseguinte vimos também
nesta última campanha um novo rosto em cena. A ambientalista que pelo o que
parece, traria uma golfada de ar em ambiente pouco arejado, nada mais é de uma
direita disfarçada para galgar o poder. Até pode ser que fosse outra
conjuntura, mas o que transpareceu foi de um partido de direita que alavancou
um discurso de politico ecológico, que no fundo tinha o empenho de trazer ao
poder um viés de política pouco preocupada com o social, e que nos âmbitos de
seus caciques partidários nunca houve preocupação para o que eles estavam
galgando. Por conseguinte a motivação de campanha de Marina está ligada á outra
crise que o mundo passa; a crise ecológica.
A crise ecológica é
consequência de um modo de vida que na ultima década causou um colapso nas
diversas reservas naturais do planeta. O efeito estufa, o aquecimento global,
os desflorestamentos, a poluição industrial entre tantos outros fatores são
responsáveis pelo que a ecologia passa hoje. Não há um culpado, existe sim uma
parcela de culpa em cada ser humano que faz uso dos diversos meios que sem empregaram
no modelo desenvolvimentista capitalista. De fundo se tem uma alta preocupação
em ganhar dinheiro sobre qualquer forma.
Estamos a cada dia vendo uma
corrida atrás de tudo o que é a
alternativo desde os combustíveis às práticas de desenvolvimentos, tudo leva a
busca de outros meios que possam poupar a natureza. Contudo também percebemos
que não há uma motivação clara dos governos em nível mundial que possa vir
corroborar com uma qualidade de vida ecologicamente correta, foi o que
aconteceu na ultima conferencia da ONU para substituir o protocolo de
Quioto, e que se não foi um fracasso
porque o Brasil tomou a liderança de costurar um prévio acordo, mas que não foi
uma saída final. Muitas consequências virão de possível catástrofe natural, se
não houver um compromisso sério para que a natureza seja mais do que
preservada, mas sim respeitada.
Todas essas crises instituídas
na sociedade levam a consequências diretas para a vida dos indivíduos. Umas
afetam mais outras menos, mas todas trazem consequências a vida no cotidiano.
Por conseguinte a partir do
que aqui está se pretendendo, precisa-se enfatizar que essas crises afetam em
primeiro plano a vida do adolescente e jovem que está vivendo este turbilhão e
ao mesmo tempo está formando seu caráter pessoa, grupal e social. As suas
relevâncias só poderão ser traduzidas após algum tempo, e assim poderão ser analisadas
as consequências deste momento para estes. E dentro das escolas e que
encontra-se estes jovens e precisa-se dar resposta e ao mesmo tempo faze-lo compreender
toda a essa engrenagem que o mundo passa.
2. A
REALIDADE JUVENIL
Talvez seja um tema que seja
preciso ser mais aprofundado dentro do aspecto da educação. Com isso é preciso
deixar patente que tomar-se-á o viés do jovem para a análise e não da educação.
Queremos propor este ponto dentro do marco situacional da escola, por que a
referência para a escola em primeiro lugar é o jovem, ou ao menos deveria ser.
Todavia não se quer colocar a educação em segundo plano, mas ponderar que os
dois caminham paralelamente. Sendo assim também se quer denunciar o vácuo que
há entre estes dois temas. Por mais que há muitos escritos sobre esta
realidade, no cotidiano do chão da escola, pouco se experimenta casar estes
dois temas. Por conseguinte buscará está pretensão de antes de falar das
consequências e tarefas da educação na escola, procurar perceber como é a
realidade juvenil no momento contemporâneo.
Assim procurar-se-á destacar
neste ponto a realidade juvenil e a compreensão contemporânea, os paradigmas de
tratamento da juventude, e por fim uma perspectiva de relação que aponte
caminhos para uma compreensão da realidade juvenil.
2.1 O MUNDO CONTEMPORÂNEO E O CONTEXTO JUVENIL
É preciso partir da compreensão como perspectiva que perceber a
realidade juvenil, e este é um pré-requisito importante . Não se pode olhar
para o elo juvenil apontando o dedo e rotulando e querer lhes impor uma marca.
Sem dúvidas, compreender a cabeça de jovem vinculado ao mundo que se percebeu a
pouco, em meio a tantas situações instauradas na pós-modernidade, é lhes impor
um peso por demais pesado que nem mesmo os adultos são capazes de conseguir.
Todavia também não se pode achar que os jovens sejam tão inocentes. O mundo
cria muitos mecanismos que são recebidos por este o público de maneira fácil.
Por isso é de se esperar que no mundo pós-moderno haja um conflito entre
pensamentos, ideais e perspectivas entre jovens e adultos. Todavia isso pode
acontecer dentro de uma naturalidade.
O modelo de juventude se diferencia
a cada ano que passa, contudo há algo que talvez não notada, e que eterniza na
juventude é a vida grupal. Vê-se nascer e morrer diferentes formas dos jovens
estarem em grupo, alguns modismo, e outros que perpetuam. Também estes modelos
podem ser regionalizados e outros, mas expressos em níveis mais amplos. Nos
últimos tempos vê-se nascerem os “EMOS”. Tem suas características próprias, o
seu jeito de se vestir, de pensar, etc. As características que estes grupos
trazem podem ser interpretados como reivindicações que esteja fazendo a
sociedade, ou ainda, os protestos velados que eles trazem em si.
Nestes novos grupos que estão
surgindo uma das questões que colocam evidente as novas marcas que eles trazem,
e sê torna desconfortável para muitos adultos é o da tolerância. Se nas décadas
passadas os hippies foram os que impetraram
a onda do “sexo, drogas e Rock in Roll”
os EMOS por sua vez, entre outras coisas, traz a liberdade sexual como
bandeira. Todavia muitos outros grupos se formam e
ao seu jeito faz a sua maneira o protesto. Segundo Lúcia Teixeira (2005. Pág.
34) “Um grupo não nasce pronto, nem nasce ‘grupo’. Como a pessoa, ele precisa
ser preparado e ‘convocado à vida’. Precisa ser ‘gestado’, para depois nascer
como grupo, passar pelas diversas etapas de crescimento até chegar à
maturidade.” O grupo é uma necessidade para o jovem.
Se no cotidiano vive-se um
clima de nostalgia, no complexo das vidas não dá para embutir este pensamento
achando que o hordieno tem que ser como no passado. Os jovens traduzem suas
vidas para a realidade contemporânea e não pode ser medida pelo passado. Neste
aspecto o que se pode traduzir na vida dos jovens é que se ele apresenta algum
tipo de incoerência com os parâmetros estabelecidos pelos adultos, com certeza
ele não recebeu do além, mas sim dos que rodeiam a eles.
O mundo contemporâneo também
cria realidades que despontam situações adversas para os jovens, e que não se
pode se desconsiderar. Quando se pauta a postura de “educar” o jovem, tem que
se perceber que ele está marcado pela realidade que o cerca. Nesta perspectiva
segundo Novaes & Vital (2006. P.112) se identifica três medos distintos na
juventude; o de viver desconectado devido às inúmeras tecnologias que aparecem
no dia, o medo de sobrar devido à falta de trabalho e mão de obra especializada
exigida, e o medo de morrer em decorrência da violência perpetrada no cotidiano
da sociedade.
Todo este enlace em relação à
juventude traz uma necessidade de compreender a juventude em todos os aspectos.
Desta maneira não podemos ver a realidade juvenil apenas como um olhar
sociológico, biológico ou psicológico.
Se na educação não partimos em
ver o todo no jovem ele passará de um educando para um problema. E o problema
por mais que se revele naqueles que sobressaem, deixamos de notar a riqueza
presente nos outros e que são chaves no processo de compreensão realidade.
A visão sociológica da
juventude permeia a configuração de que ela é uma parte da sociedade e que
precisa ser encarado como um fato sociológico, e que por existir assim precisa
de políticas que contemple sua realidade. Para esta visão a juventude é um
grupo social que busca a construção da cultura e da história.
A visão biológica ou
psicológica determina que os diversos impasses vividos pela juventude sejam
apresentados pelo viés psicológico que ele se encontra, é fruto da ação
biológica contida em qualquer ser humano. Daí vem todas as respostas para as
suas atitudes. O jovem nesta visão perfaz um caminho que bem orientado não
trará dificuldades nos seus amadurecimentos. Toda orientação bem colocada fará
dele no futuro um adulto saudável. O risco neste contexto é fazer do jovem como
alguém a ser domesticado, e não respeita a sua característica individual. O seu
comportamento está relacionado a posturas de distúrbios ou controles que a
psicologia tende a caracterizar “próprio” da idade.
Há ainda nestas perspectivas
uma grande discussão sobre idade e realidade da juventude na construção
histórica na sociedade e as diferenças que podem marcar no contexto histórico
mundial as relações que isto pode ter.
Para compreender por isso a
realidade juvenil identificamos que a juventude é uma realidade transitória,
eles estão na esfera da marginalidade da sociedade e dos grupos instituídos e
dos grupos de decisão, são adaptáveis a viver a situação atual e está nela a
potencialidade da mudança, são estritamente solidários, mas questionadores do
mundo adulto. (DICK, 2003)
A este contexto percebe-se que
na escola pouco se reflete sobre a realidade juvenil, e muito pouco procura se
compreender sobre este universo que puja todos os dias ante os educadores.
A educação como paralelo de
mudança
Hoje na sociedade está
pertinente uma discussão que busca o resgate da educação. Sente em todas as
esferas que a mudança na sociedade só virá com uma educação de qualidade. Neste
intuito e que muito se focou para a mudança nos últimos anos. Não se pode negar
que o governo federal tem dado algum crédito para que houvesse uma mudança.
Também se compreendeu que ela é lenta e gradativa.
Nos últimos anos, a educação
no Brasil começou a ser pautada com mais responsabilidade pelos governos
estadual e federal. Vê-se, com clareza, que houve mudanças nas posições dos
mesmos, principalmente na questão do financiamento público para aprendizagem e
para a formação continuada do professor, como por exemplo os diversos cursos
ofertados pela Universidades Federais, o PDE para os professores concursados, a
plataforma Paulo Freire que amplia horizontes para novos professores entre
tantos outros benefícios. Ainda assim, falta muito para que a educação atinja
um alto nível e trate o jovem com o esmero que tal realidade social exige.
Entre tantas coisas que a
educação deseja promover está a formação humana integral. Algumas disciplinas
vieram para corroborar o processo, como a sociologia e a filosofia e até mesmo
o ensino religioso, que deveriam trabalhar interdisciplinarmente. Todavia, isso
ainda não acontece, pois o ensino da filosofia, sociologia e outras disciplinas
acabam caindo no amálgama de preparar esses educandos para o vestibular, e o
ensino religioso funciona como um estudo confessional. O primeiro passo notado
é a democratização do acesso as universidades. O programa PROUNI realizou o
sonho de muitos jovens de baixa renda a chegar a cursar uma faculdade. Isto é
importante, pois aumenta o numero de profissionais com gabarito para atuação no
mercado de trabalho, por sua vez aumenta a escolaridade das pessoas de baixa
renda. A possibilidade de educadores
poderem terminar sua formação, ou ainda especializar-se nas suas áreas foi uma
oura notoriedade deste governo. A ampliação de polos de educação a distância
também trouxe oportunidades para muitos brasileiros.
Importante marcar o aspecto
descrito acima, pois, se na educação está a substancia da mudança, o ensino
superior é o arauto para este processo. Analisando a perspectiva da educação do
ensino superior, a partir do conceito de deuteroaprendizado segundo o
pensamento de Gregory Bateson, Baumman (2008. Pag. 161) afirma que:
“Sob tais circunstâncias, o
‘aprendizado terciário’ – aprender a quebrar a regularidade, a livrar-se dos
hábitos e a prevenir a habitualidade, a rearrumar experiência fragmentárias em
padrões até agora não familiares, tratando todos os padrões como aceitáveis
apenas ‘até segundo aviso’ -, longe de ser uma distorção do processo educacional
e um desvio do seu verdadeiro objetivo, adquire um valor adaptativo supremo e
se torna crucial para o que é o indispensável ‘equiparamento para a vida”
Uma nação que não apostar na
educação superior da sua juventude, tenderá a ficar a mercê de não ver a quebra
de paradigmas se efetuar dentro o meio pensante da sociedade.
Diante de tantas realizações
na ultima década ainda vimos aprovado o teto mínimo do salario do professor,
que os governos na sua maioria não respeitam, e a busca de uma qualidade no
ensino fundamental e médio, com diversas formas de avaliação.
Neste meandro quer-se pensar conjuntamente sobre a educação e a
realidade juvenil. A pedagogia freireana é mais um componente na
formação da aprendizagem dos nossos adolescentes e jovens. Nesse método, está
intrínseca uma metodologia que leva não só à aprendizagem, mas também à
formação do indivíduo enquanto ser humano plenamente realizado. Tal formação torna o educando um indivíduo com criticidade suficiente para
cuidar de si e de seu entorno. Neste aspecto, o sujeito vem ser protagonista de
sua história com capacidade de transformar o meio onde vive pela consciência
adquirida no processo de reflexão e que determinará o próprio sucesso. Segundo
Freire (2005p.73), “A desproblematização do futuro, não importa em nome de quê,
é uma violenta ruptura com a natureza humano-social e historicamente
construindo-se.” É no processo educacional e na busca de ser protagonista que o
sujeito se torna autônomo para tomar as decisões de que pode vir a depender o seu futuro,
contudo, essa conduta já marcou o seu presente, pois, isto é intrínseco à
educação - Freire assim diz, (2005, p.
109):
Quando falo de educação
como intervenção, me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na
sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do
direito de trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que, pelo
contrário, racionariamente pretende imobilizar a História e manter a ordem
injusta.
Hoje, uma das maiores
dificuldades em sala de aula com alguns
alunos indisciplinados é conduzi-la alinhadamente. Tais alunos não são,
necessariamente, jovens adolescentes em conflito com a lei, mas são desconexos,
isto certamente por causa das difíceis relações humanas, em âmbito familiar e de amizades, que são
reflexos normais da idade. Muitas vezes
são vítimas da sociedade e do sistema escolar que não dispõe de quadros
competentes para tratar tais situações.
Na trajetória de
socialização que vivenciam os jovens desde sua infância até a sua autonomia
pessoal, veem-se mergulhados simultaneamente a um sem–número de contextos
culturais e redes de sociais preexistentes – família, amigos, companheiros de
curso, meios de comunicação, ideologias, partidos políticos, entre outras – dos
quais selecionam e hierarquizam valores e ideais, estéticas e modas, formas de
relacionamento ou convivência e vida, que contribuem para modelar seus
pensamentos, sua sensibilidade e seus comportamentos. (LEON, 2004,p.15)
Outro fator verifica-se
na estrutura de sociedade que imputa medos à juventude, tais como: medo da morte, devido à
violência; de viver desconectado da forte rede de comunicação que existe, e o medo de sobrar
ante um mercado de trabalho escasso e exigente. Todos estes fatores permeiam e incidem na vida dos jovens e ao mesmo tempo
têm influência diretamente no seu comportamento, quando suas estruturas não
estão bem solidificadas. (NOVAES
& VITAL, 2006. p.112)
Estes adolescentes e
jovens têm alguns perfis quase sempre semelhantes. Muitos acabam entrando na
rebeldia, violência, e no uso de drogas lícitas e ilícitas. Por uma perspectiva
não muito favorável, são indisciplinados em aula, apesar de terem um potencial
de aprendizado, não conseguem usar o mesmo, acabam tornando-se repetentes, e
apontados como os causadores de problemas em sala.
Segundo Dick (2003), pulsa na juventude um
valor sobrenatural de contestar. Durante a história, esses gritos foram
silenciados, mas transformaram a sociedade. Na verdade, foram a provocação e a
astúcia juvenil que proporcionaram mudanças na sociedade. Sendo assim, a melhor
maneira de formar o jovem não é tratando-os como problema, mas ajudando-os a
perceberem a sua força vital e fazer uso disto
para transformarem suas
realidades. Neste contexto, acredita-se que a formação humana destinada ao
adolescente jovem poderá servir para resgatá-lo, para que possa vir a cumprir
um papel de autonomia na sua vida e na sociedade.
Existem paradigmas no
tratamento das políticas públicas para a juventude, eles coexistem de maneira a
estar presentes nas mesmas instituições. Definem-se quatro paradigmas, a
juventude como etapa preparatória, problemática, revolucionária e autônoma.
Nesta perspectiva, o Brasil está se afirmando, a última que é a visão do jovem
enquanto sujeito de sua história, uma realidade social e sujeito passíveis de
estarem usufruindo de políticas sociais desenvolvidas não pelas suas mazelas,
mas porque é cidadão e a elas têm direito. (ABRAMO, 2004. p. 20 -22)
Nos últimos anos, a
juventude tem sido um desafio para todos os âmbitos da sociedade. As
instituições e organizações de trabalho com jovens veem a cada dia vislumbrar
em seus olhos um horizonte de mistério. Em uma sociedade onde predomina a
juventude, há que se estar atento, pois o futuro passa, necessariamente, por
ela.
Podemos nos perguntar se
há alguma fórmula que conjeture um processo de crescimento para estes jovens
poderem desfrutar desse horizonte. O trabalho com esses estudantes, quando
feito buscando o crescimento de forma integral, vai para além das respostas que
encontramos no convívio com os eles. É um repensar de ideias, práticas,
dinâmicas, conceitos, relacionamentos, valores, entre tantas outras coisas que
podem surgir neste ideário que se coloca a nossa frente.
Por conseguinte, um primeiro processo viável para
poder imaginar o jovem num paralelo existencial diferenciado, é apostar na
vivência grupal. O grupo direcionado
para a formação, bem constituído, leva-nos a crer em um amadurecimento integral
das dimensões humanas na vida do jovem.