segunda-feira, 25 de março de 2013

EPÓCA DE MUDANÇAS OU MUDANÇAS DE ÉPOCA, AS CRISES INSTITUIDAS


Escrever um marco da situação em que se encontra a sociedade em tempos atuais não é uma tarefa nada fácil. Ainda que a ordem estabelecida seja homogênea, quando se fala da situação mundial já está dizendo que de onde se fala se acompanha a mesma situação que a ordem global. De outra forma também pode-se pensar que quando se fala de certo lugar, tem que levar em consideração todas as consequências que é falar de um lugar próprio, e mais, quem fala sempre fala de um ponto de vista, com afirma Leonardo Boff “cada ponto de vista é vista de um ponto.” Em outras palavras é dizer que falar da situação do mundo a partir de um ponto estabelecido, no caso o Brasil, não é a mesma coisa de falar de fora do Brasil, por conseguinte é diferente falar de uma situação de um determinado lugar no Brasil, como no Paraná, e perceber os mesmos aspectos em um estado do nordeste. Em suma a visão que pode ser expressa tem que levar em consideração todos os contextos e pretextos de onde se fala para quem se fala e qual o referencial a se falar, e quem fala da situação.
Estando localizados pode-se agora pensar em alguns parâmetros para essa análise, pois a mesma levará em conta alguns aspectos. Em primeiro falar-se-á das mudanças em geral que o mundo está passando, e que vários autores identificam como crises que está transformando o tempo atual. Depois, perceber a situação juvenil que está em um momento de ganho de garantia de direitos, contudo será explorado neste item toda a relação que está embutida no tema juvenil, como família, sociedade, direitos, deveres, etc. por fim, se dará uma tentativa de entrelaçamento buscando perceber como anda as questões de Brasil dentro da ordem governamental, social, econômica, cultural e educacional, tomando como parâmetro os itens acima a fim de fazer uma síntese da situação.


1.    Mudança de Época - Crises Instituidas

Quais as mudanças que o mundo está vivendo na atualidade? A pergunta se faz jus partindo do princípio que atualmente a humanidade está vivenciando diversas crises. Verifica-se neste enredo de crises uma ambivalência, isto é, o de decidir por e para onde caminhar. Também se legitima a questão à cima partindo do pressuposto de alguns autores que identifica essa época, não de época de mudanças, mas uma mudança de época. Edgar Morin vai ser o expoente nesta afirmação. O progresso obtido nas últimas décadas, pela sociedade, foram intensos e rápidos, e para muitas dessas mudanças, à sociedade não só não estava preparada, mas a aceitou sem pré-requisitos não se dando conta das consequências ou percebendo as mesmas tardiamente. Segundo Morin (2007. Pág. 107)
Devemos tomar consciência de que vivemos uma comunidade de destino planetário, face às ameaças globais trazidas pela proliferação das armas nucleares, pelo desencadeamento dos conflitos étnico-religiosos, pela degradação da biosfera pelo fluxo ambivalente de uma economia mundial descontrolada, pela tirania do dinheiro, pela união de uma barbárie vinda dos confins dos tempos, pela barbárie congelada do cálculo técnico e econômico.

A crise, entre as crises, é identificada por Zygmunt Bauman como morte de uma época e o não nascimento de outra, ou seja, a ambivalência cultural que forja a falta de alternativas, segundo Bauman (2008. Pág. 78):

Ambivalência, ambiguidade, equivocidade... Estas palavras transmitem um sentimento de mistério e enigmas; também sinalizam em problema cujo nome é incerteza, e um estado mental desolador chamado indecisão ou hesitação. Quando dizemos que coisas ou situações são ambivalentes, o que desejamos dizer é que não podemos estar certos do que vai acontecer nem saber como nos comportar, tampouco prever qual será o resultado de nossas ações.

 O morbismo que se encontra neste espaço criado pela ambivalência é que vai mudando a nova ordem que caracterizada por época. Essa intuição já está presente no pensamento gramscianiano, mas está muito bem articulada na obra de Karl Polanyi, “A Grande Transformação”[1] que descreve como, e qual foi o caminho que se enveredou historicamente a sociedade para que o capitalismo fosse forjado como estrutura econômica da ordem social mundial. Nesta obra ele já anuncia que o capitalismo é uma ordem “nati” morta, mas que persiste por rearticular novos meios para manter-se como paradigma de estruturação das nações. Isso também porque o capitalismo influenciou diretamente o sujeito na sua concepção de vida. (POLANYI. 2000)
Todos os intelectuais que tratam das concepções mundiais do capitalismo têm por fundamento direta e indiretamente a concepção de Karl Polanyi. As estruturas capitalistas nas suas vertentes liberal e neoliberal podem estar ultrapassadas, mas ordem mundial ainda não encontrou sua dinâmica para viabilizar uma nova conduta, e isso tem suas causas. Isso é o que tentaremos analisar.

1.1  As crises instituídas

Como dito a cima o mundo passa por diversas crises. Essas crises são fruto de um momento histórico mundial, onde alguns parâmetros da vida social tem se perdido na nova concepção de vida moderna. Alguns parâmetros estão perdidos por completo sem ter outros para substitui-lo, outros em via de transformação, outros perdidos no espaço e no tempo buscando encaixar-se em alguns planos.
1.1.1     Crise das instituições
Qual é o papel das instituições hoje, visto que, durantes séculos foram capazes de conduzir o sujeito para uma organização social, com parâmetros regulatórios para a sociedade?
A crise das instituições está relacionada diretamente a crise do individuo que está formulando uma nova relação na sociedade pós-moderna. Essas crises poderiam está mensurada com o que Nietzsche pensava sobre a moral taduzido na sua obra ”Além do bem e do mal”. Entre tantas instituições, sobressai uma que é célula primordial da sociedade; a família. O presesuposto aqui é ideário de família composta pela revolução industrial, conhecido como célula familiar, pai mãe filhos. Este pressuposto se faz entender que antes da revolução o que interpretamos como família não tinha o mesmo ajuste pensado com a revolução industrial, e o capitalismo moderno, mas a vivencia em geral de clãs. (SCHINELLO 2011). Com a desestruturação deste modelo, encontra-se um alto número de filhos fora do casamento, e por consequência as separações, como também diminuíram o número de casamento civil e religioso, bem como as uniões estáveis. Por conseguinte aumenta um numero de uniões homo afetivas com direitos de adoção, e vê-se a necessidade de uma orientação para o entendimento e respeito à diversidade e liberdade sexual. Não que isso seja mal, ao contrário, podemos presumir que a sociedade esta aceitando a diferença, dessa maneira vê-se aumentar o número de relações homo afetivas. Por isso neste momento urge uma compreensão destes fenômenos, pois eles implicam diretamente na vida social da criança, do adolescente com repercussão direta na juventude. A crise na instituição família está para além do que é representado nas uniões quer seja hétero ou homo, mas está na concepção de um novo olhar para o que denominamos de família. Se no passado era a ludibriação da verdade, com casamentos permanecendo unidos somente por uma responsabilidade moral patriarcal, tendo a mulher como vítima deste pensamento, hoje com a aquisição de direitos das mulheres, não há como tolerar tais situações. São propositivos tais direitos, pois não é possível que uma sociedade permitisse que a mulher carregasse o fardo de ser, esposa, mãe, dona de casa, e ainda trabalhar fora, com muitas vezes sendo tratada pelo seu companheiro apenas como objeto sexual, apesar destes âmbitos há muito ainda que as mulheres conquistar. Segundo Kahale e liebesny:

A família - como espaço de cuidados e de afetos - é crucial nessa etapa ‘multideterminada’ escolhas e projetos. Ela pode ser catalisadora de projetos mais autônomos quando questiona abre espaços para reflexão e crítica dos valores da ideologia dominante. Por outro lado, ela poderá ser um elemento de pressão de reprodução dessa ideologia ao determina o que o jovem deve escolher pra sua vida, muitas vezes almejando reconstruir a história da própria família através das novas gerações.

A ordem familiar hoje apesar de serem múltiplas, tem como paradigma um novo contexto, o de estar em pé de igualdade homens e mulheres, ou realidades homo afetiva, que, encontra na pessoa do mesmo sexo uma relação de respeito e carinho. Tanto uma e outra se equilibrada, com parâmetros de respeito mútuo e clareza nas relações podem ser excelentes ambientes para educação da criança e do adolescente.
A igreja[2] é outra instituição que passa por uma convulsão generalizada. Aqui vamos colocar como expoente as igrejas históricas[3] das quais a Igreja católica romana[4] é a mais “atrasada” em algumas concepções, contudo há de se compreender este atraso, e não queremos julgar aqui se é certo ou não. A ICAR tem seus motivos, e possa vir a ser que a história julgue que em alguns temas ela teve razão. Não vamos abordar de início as igrejas pentecostais e neopentecostais, por serem grupos distintos dentro dos grupos cristãos.
Vemos hoje nas igrejas históricas se abrindo para muitas realidades da sociedade que merecem uma nova abordagem. A questão de gênero, a tolerância religiosa, o ecumenismo, a diversidade entre tantos outros fatores. Muitos elevam a crítica ICAR, por ainda não se adequar as exigências da nova sociedade. Contudo á de se fazer uma defesa da mesma, pois uma instituição milenar, tendo como seguidores mais de setenta por cento da população mundial não pode se colocar a mudanças sem critérios. Para que a ICAR possa pensar em mudar precisa-se de muito diálogo e estudo, pois quando toma como decisão a mudança não será para dentro de cinco anos reavaliar, mas perpetuar por muitas gerações, isso também não é para eximir de culpa os erros que ela cometeu durante a história recente, e por isso está pagando um preço amargo. Mas perceber que dentro do seio da própria igreja existem aqueles com posturas diversas, que divergem enormemente um do outro, e mesmo assim ela os acolhe. Também não podemos deixar de criticar sua postura ante os mais progressivos, como denunciou Hans Kung[5] para uma pequena plateia de professores e teólogos na Universidade do Rio dos Sinos em São Leopoldo[6], Rio Grande do Sul, segundo Kung, há hoje na Europa certa de mais de trezentos teólogos silenciados pela ICAR. É uma denuncia grave, de falta de liberdade de expressão dentro de uma instituição como a ICAR.
Todavia a crise que envolve as igrejas históricas é a mesma a crise de fé que perpassa a sociedade contemporânea. Esta crise tem suas raízes no individualismo exacerbado pelo capitalismo, e degradação da moral coletiva que foi politizada pelo acesso a informação nem sempre bem contextualizada. Por outro lado a relativização da sociedade para algumas posturas religiosas contribuíram para o esvaziamento da fé na sociedade pós-moderna.
Contudo vemos um paradoxo na expressão de religiosidade mundial. Basta lembrar como se instalou o caos em Roma na morte do pontífice João Paulo II. Foi expressão de uma Europa dessacralizada e ateia, que vive buscando referenciais para sua explicitação de fé, mas vivida individualmente, o paradoxo está em homenagear um homem que tanto enfatizou a vida cristã em comunidade, por milhões de pessoas individualistas.
Se no passado a igreja era uma referência para poder organizar a sociedade, bem como dirigi-la na conduta moral e para acreditar em um Deus que propagava o bem, hoje a igreja têm poucos adeptos e a cada dia o esvaziamento das mesmas se dá em locais mais politizados. Pode ser uma afirmação simplória e ainda não comprovada cientificamente, mas quanto mais politizada e com um nível econômico melhor de vida, mais a participação na igreja decresce. Talvez não seja uma crise de fé, mas sim de valores da fé, pois na maioria das vezes não é a falta de fé em um Deus, mas uma maneira diferente de acreditar, isto é, acreditar em um Deus pessoal e individualista. Bem para o cristão essa é uma maneira totalmente equivocada de viver a fé cristã. Talvez isso não soe importante, ou não tenha muito haver com uma analise de crise, contudo quando perpassamos no recorte da juventude isso traz consequências preocupantes.
A falta de uma fé consistente pode vir a formar jovens sem alteridade. Ora, um jovem formado na concepção individualista, sendo filho único, sem uma concepção moral que decorre de uma fé, seja em que Deus que for, terá ele uma vida interior e psicologicamente saudável? A resposta se encontrará no futuro não muito distante, ou quem sabe já vemos lampejos dessa postura em sala de aula.
Outra instituição que vive uma crise velada é a educação. Não falaremos aqui das inúmeras defasagens na política educacional. Vamos tomar como recorte três aspectos, a relação entre educadores e pais, o educador, e o educando.
É muito preocupante o que condiciona a relação de pais e educadores. De fundo está à falta de posicionamento dos atores principais. Isto porque se inverteram alguns os papéis. O educador é responsável em fazer o educando a ter conhecimento, e os pais colaborando com isso deve formar nos seus filhos o respeito, a alteridade, entre outro tantos valores. Contudo os educadores em ambiente escolar não só tem que produzir conhecimento, como ensinar fundamentos básicos do comportamento e do melhor agir, contudo nem sempre os educandos aceitam. A sala de aula deixa ser um espaço de conhecimento para ser um ambiente de disputa de poder, isso porque a função do educador ainda na função social de seu papel já está esgotado e ultrapassado, e com isso atitudes totalitárias tende a ser respondida no mesmo tom. Segundo Margarete (2009. Pag. 29)
“É preciso que se dê Ensino/Educação, espaços para a flexibilidade, para a realização de experiências alternativas, curricularizando a matemática da fome a geografia e a história da exploração dos problemas sociais, o português da violência e do preconceito, os dialetos populares que são a verdadeira língua falada, a ciência da história da vida real das pessoas...”
Em outras palavras é preciso trazer a realidade para dentro de sala de aula, e começar a tratar dos assuntos que envolvem os educandos, partindo do pressuposto da formação do conhecimento a partir da dialogicidade.




2.1.2.   Crise Social
A crise social permeia a volatilidade que a sociedade perpassa. Em outras palavras, podemos compreender como já dito que no centro está a ambivalência. O contexto empregado nesta situação, também já dito, é que é a estrutura macro econômica dos fundamentos do capitalismo, está deslocado do momento histórico, isto é, uma força supranacional que falhou, não vingou e não equaciona a realidade da sociedade dentro do parâmetro mundial, vigora mesmo morta.
A crise econômica ocorrida há poucos anos foi o ápice desta situação. O que a maioria dos países de grande economia pregava que o mercado não precisava de regulamentação e de intervenção do estado caiu por terra. Essa foi uma das verdades pregada durante anos. Outro fator que caiu por terra, foi a de que os países não tem dinheiro para aplicar seja onde for. Para conter a crise, inúmeros foram os países que despejaram dinheiro no setor econômico para não deixar os grandes bancos e empresas quebrarem. Até mesmo o Brasil acabou dando uma colaboração ao FMI emprestando dinheiro ao mesmo.
Contudo Brasil foi diferente a crise. Com as medidas tomadas pela equipe econômica a crise que devastou os países chegou aqui como “uma marolinha”[7]. Comprovou-se mais tarde que Lula tinha razão. Contudo a crise de início foi uma grande possibilidade para poder destacar que muitos dos críticos deste modelo econômico tinham razão, em especial os dos movimentos sociais. Para estes grupos o Brasil, venceu a crise, mas não superou os problemas cadentes, e ainda perdeu a oportunidade de fazer mudanças necessárias e de grande complexidade para demonstrar que o sistema econômico vigente não tinha razão. Um exemplo foi à situação automobilística. Quando dentro da crise se incentivou a consumo na compra de carro, o governo poderia ter apostado em sistema de transporte público eficiente e condizente com o país que vivemos. Mas ao contrário o incentivo aumentou o consumo de carro, e assim não se resolveu o problema do transporte público, aumentou o numero de carros trafegando que por consequência aumenta os engarrafamentos nas grandes e medias cidades, além do aumento a poluição.
No âmbito da crise, o Brasil aproveitou da situação, com a forte marca perpetrada pela figura do presidente Lula e o ministro das relações exteriores do Brasil, para poder pressionar os países ricos para ampliar horizontes na busca de soluções e garantias para uma economia mais voltada a se preocupar com as economias emergentes. Foi dessa maneira que forçou o fim do G8 para dar lugar ao G20.
A crise social também passa pela crise de valores. Não é somente mudanças e valores é realmente uma crise. Claro, está em jogo o pensamento do passado em choque com a visão do presente. Em primeiro lugar é bom ficar claro que valor, enquanto valor não é de ordem natural, então eles podem modificar. Contudo o que acontece hoje é uma distorção de valores, com o qual não conseguimos ver nítido onde está a mudança, mas sabemos da falta que se tem em determinados valores.
Entre tantos valores tem alguns que devem chamar nossa atenção como, por exemplo, a alteridade que deveria ser um valor intrínseco ao ser humano, foi aniquilada pela visão individualista que se criou na sociedade. Hoje muitos dizem que não houve tanta revolta contra guerras surgidas em tantos lugares, nunca houve tantas manifestações contra conflitos. Bem realmente houve isso, mas, esse é um novo valor que está nascendo em detrimento a tantos que passam fome em tantos locais no mundo. Não há grandes manifestações em favor do combate a fome na Ásia e da África.  Esse tipo de alteridade coletiva pode ser um meio de desencargo de consciência. Podemos comparar isso há tantas situações que continuam sem ninguém sê lembrar. Já nos acostumamos com os conflitos? E onde fica o repudio contra os israelenses e o muro que constrói para separar Israel dos palestinos? No Brasil se denotou uma grande solidariedade com os flagelos que aconteceram em alguns estados pelas catástrofes naturais. Essa solidariedade foi acompanhada de grande produto midiático, que ressaltou inúmeras vezes a ação dos que estavam sendo solidários. Por conseguinte como está a situação nordestina durante anos? Qual a situação de parte do Piauí, onde uma refeição por dia é o que conta uma família?  A solidariedade também é perceptível no meio midiático das telecomunicações. As campanhas: Criança Esperança e o Teleton são os meio visíveis e mais difundidos e divulgados para ajudarem “as crianças” do Brasil. As arrecadações destas campanhas, não passam de sensibilização emocional e arrecadação de dinheiro. A contribuição causa naquele que contribui uma sensação desobriga, de papel cumprido. No dia a dia pouco importa as crianças do seu bairro estão tendo dignidade na educação, se cumprem os seus direitos básicos, e ainda sê há alguma criança na rua, ou passando fome. Isso não é problema dele, afinal já contribuiu com as campanhas de solidariedade.
Duas reflexões se podem tirar dessas situações, comparando-se aos valores instituídos na sociedade; O primeiro é que se terceirizou a solidariedade e colocaram a alteridade debaixo do tapete. O compromisso ético para com o outro é delegado a uma solidariedade sem sair de casa.  Terceiriza-se o problema para que não haja incomodação. Por outro lado o compromisso social que tem as empresas que fazem este tipo de arrecadação, não se percebe uma preocupação realmente social, a não ser que ela seja meio de melhor comercializar seu produto. Em outras palavras; ter compromisso social eleva o faturamento da empresa. Segundo Lipovetsky (2004).
Sem duvidas é preciso renascer um novo parâmetro de sociedade altruísta. Mas que leve a possibilidade de homens e mulheres conviverem e sê perceberem enquanto seres humanos habitantes do mesmo mundo.
A politica é outra instituição que há muito está em crise. Em âmbito nacional vemos tantas marcas significativas de continuidade, mas também de mudança nos últimos oito anos. Para exemplificar podemos elencar quatro situações; as duas primeiras demonstrando que a Europa continua conservadora é o exemplo de Nicolas Sarkozy na França que reelegeu seu sucessor para 1º ministro e em seguida foi eleito presidente da França, os ataques ao Silvio Berlusconi na Itália que se perpetua com o poder midiático, duas outras demonstram que foi significativo para o mundo ter eleição de um torneiro mecânico, Luís Inácio Lula da Silva, para a presidência do maior país da América do Sul, e a eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Por conseguinte muitas são outras situações mundiais que preocupam a geopolítica e que não há muito o que pensar nesta direção. Pode-se destacar entre outras situações o problema judeu-palestino em Israel, a fome em vários países da África, as calamidades que enfrentam diversos países como pouco ajuda humanitária, como é o caso de alguns países da Ásia e América Central, a china e seu fechamento ao diálogo sobre os direitos humanos, a questão do Tibet, a invasão do Iraque e Afeganistão, a falta punição sobre aqueles que mentiram sobre as fabricas de arma de destruição em massa, o narcotráfico na Bolívia ou uma desculpa para que os Estados Unidos intervenha nas questões das Américas, o contínuo ataques verbais entre países da América do Sul envolvendo a Venezuela, equador, Peru e Bolívia, a falta de diálogo com Irã e outros países que tem o talibã como forma de governo, e nos últimos tempos o crescente tensão entre as duas Coreias. Em todas estas questões ainda está à reformulação da ONU que há muito é pedido pelos países em emergência. 
Contudo houve uma marca na ultima década que pontuou a discussão de maneira global o surgimento do Fórum Social Mundial[8] (FSM) em contra ponto ao Fórum de Davos.
O FSM teve sua primeira edição em Porto Alegre em 2001. A repercussão e a participação no mesmo, com cerca de 4.700 delegados de 117 países, e em torno de 20.000 participantes, foi festejada pelos organizadores e assim marcou o contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos na suíça que é organizado pela ONU e financiado por mais de 1000 empresas.
O FSM tornou-se um referencial contraponto a política neoliberal mundial. A segunda edição do fórum surpreendeu os organizadores com 12.274 delegados de 123 países, e cerca de 50 mil participantes mais que o dobro. O terceiro bateu todos os recordes com mais de 20.000 delegados e 100.000 participantes sem contar os 25.000 jovens do acampamento da juventude[9]. O sucesso desta organização se vale com inúmeras discussões que são voltadas e o intercambio dos diferentes países. A postura de se encontrar anualmente para pautar as ações de que “outro mundo é possível”[10] destaca para que a política mundial tenha saídas e que há pessoas em participar desta mudança.
A situação da politica no Brasil pose ser compreendia na recente eleição pode servir de parâmetro para essa abordagem. As diferenças regionais dão pauta para o processo de uma política suprapartidária. Por conseguinte a frustração nesta instituição vive-se no paradigma da honestidade. O PT chegou à presidência e nele estava carregada a esperança de uma nova forma de encarar a situação. Houve mudanças no que se refere à impunidade e a investigação. Nunca se houve tantas investigações na policia federal e tantos políticos presos por corrupção, trafico de influências e tantas outras situações. Por outro lado o escândalo do mensalão que foi a continuidade do velho jeito de se garantir maioria no governo, mas que foi apresentada como prática única e exclusiva do PT. Talvez haja uma analise errônea da sociedade em muitos casos. Ainda que alguém subordinado a uma pessoa faça o mal feito, não podemos imputar culpa ao que está diretamente ligado ao mesmo. Contudo as alçadas de poder pode demonstrar quem realmente é tal pessoa. Nas palavras de Frei Beto um dos assessores especiais da presidência nos primeiros dois anos do governo Lula “o poder não muda as pessoas, ele só mostra realmente quem eles são”.
É iminente a necessidade de uma reforma políitica no Brasil, ou irá se assistir as alianças fisiológicas como se viu na ultima disputa das alianças para a presidência do Brasil. Ainda que ela seja pragmática, sabemos no fundo que ela é fisiológica e corrupta. Contudo enquanto estivermos na estrutura política que há necessidade de governabilidade, vamos assistir estas situações. Segundo Chauí (citar a caros amigos)
Por conseguinte vimos também nesta última campanha um novo rosto em cena. A ambientalista que pelo o que parece, traria uma golfada de ar em ambiente pouco arejado, nada mais é de uma direita disfarçada para galgar o poder. Até pode ser que fosse outra conjuntura, mas o que transpareceu foi de um partido de direita que alavancou um discurso de politico ecológico, que no fundo tinha o empenho de trazer ao poder um viés de política pouco preocupada com o social, e que nos âmbitos de seus caciques partidários nunca houve preocupação para o que eles estavam galgando. Por conseguinte a motivação de campanha de Marina está ligada á outra crise que o mundo passa; a crise ecológica.
A crise ecológica é consequência de um modo de vida que na ultima década causou um colapso nas diversas reservas naturais do planeta. O efeito estufa, o aquecimento global, os desflorestamentos, a poluição industrial entre tantos outros fatores são responsáveis pelo que a ecologia passa hoje. Não há um culpado, existe sim uma parcela de culpa em cada ser humano que faz uso dos diversos meios que sem empregaram no modelo desenvolvimentista capitalista. De fundo se tem uma alta preocupação em ganhar dinheiro sobre qualquer forma.
Estamos a cada dia vendo uma corrida atrás de  tudo o que é a alternativo desde os combustíveis às práticas de desenvolvimentos, tudo leva a busca de outros meios que possam poupar a natureza. Contudo também percebemos que não há uma motivação clara dos governos em nível mundial que possa vir corroborar com uma qualidade de vida ecologicamente correta, foi o que aconteceu na ultima conferencia da ONU para substituir o protocolo de Quioto,  e que se não foi um fracasso porque o Brasil tomou a liderança de costurar um prévio acordo, mas que não foi uma saída final. Muitas consequências virão de possível catástrofe natural, se não houver um compromisso sério para que a natureza seja mais do que preservada, mas sim respeitada.
Todas essas crises instituídas na sociedade levam a consequências diretas para a vida dos indivíduos. Umas afetam mais outras menos, mas todas trazem consequências a vida no cotidiano.
Por conseguinte a partir do que aqui está se pretendendo, precisa-se enfatizar que essas crises afetam em primeiro plano a vida do adolescente e jovem que está vivendo este turbilhão e ao mesmo tempo está formando seu caráter pessoa, grupal e social. As suas relevâncias só poderão ser traduzidas após algum tempo, e assim poderão ser analisadas as consequências deste momento para estes. E dentro das escolas e que encontra-se estes jovens e precisa-se dar resposta e ao mesmo tempo faze-lo compreender toda a essa engrenagem que o mundo passa.
2.    A REALIDADE JUVENIL
Talvez seja um tema que seja preciso ser mais aprofundado dentro do aspecto da educação. Com isso é preciso deixar patente que tomar-se-á o viés do jovem para a análise e não da educação. Queremos propor este ponto dentro do marco situacional da escola, por que a referência para a escola em primeiro lugar é o jovem, ou ao menos deveria ser. Todavia não se quer colocar a educação em segundo plano, mas ponderar que os dois caminham paralelamente. Sendo assim também se quer denunciar o vácuo que há entre estes dois temas. Por mais que há muitos escritos sobre esta realidade, no cotidiano do chão da escola, pouco se experimenta casar estes dois temas. Por conseguinte buscará está pretensão de antes de falar das consequências e tarefas da educação na escola, procurar perceber como é a realidade juvenil no momento contemporâneo.
Assim procurar-se-á destacar neste ponto a realidade juvenil e a compreensão contemporânea, os paradigmas de tratamento da juventude, e por fim uma perspectiva de relação que aponte caminhos para uma compreensão da realidade juvenil.

2.1  O MUNDO CONTEMPORÂNEO E O CONTEXTO JUVENIL
É preciso partir da  compreensão como perspectiva que perceber a realidade juvenil, e este é um pré-requisito importante . Não se pode olhar para o elo juvenil apontando o dedo e rotulando e querer lhes impor uma marca. Sem dúvidas, compreender a cabeça de jovem vinculado ao mundo que se percebeu a pouco, em meio a tantas situações instauradas na pós-modernidade, é lhes impor um peso por demais pesado que nem mesmo os adultos são capazes de conseguir. Todavia também não se pode achar que os jovens sejam tão inocentes. O mundo cria muitos mecanismos que são recebidos por este o público de maneira fácil. Por isso é de se esperar que no mundo pós-moderno haja um conflito entre pensamentos, ideais e perspectivas entre jovens e adultos. Todavia isso pode acontecer dentro de uma naturalidade.
O modelo de juventude se diferencia a cada ano que passa, contudo há algo que talvez não notada, e que eterniza na juventude é a vida grupal. Vê-se nascer e morrer diferentes formas dos jovens estarem em grupo, alguns modismo, e outros que perpetuam. Também estes modelos podem ser regionalizados e outros, mas expressos em níveis mais amplos. Nos últimos tempos vê-se nascerem os “EMOS”. Tem suas características próprias, o seu jeito de se vestir, de pensar, etc. As características que estes grupos trazem podem ser interpretados como reivindicações que esteja fazendo a sociedade, ou ainda, os protestos velados que eles trazem em si.
Nestes novos grupos que estão surgindo uma das questões que colocam evidente as novas marcas que eles trazem, e sê torna desconfortável para muitos adultos é o da tolerância. Se nas décadas passadas os hippies foram os que impetraram a onda do “sexo, drogas e Rock in Roll” os EMOS por sua vez, entre outras coisas, traz a liberdade sexual como bandeira.  Todavia muitos outros grupos se formam e ao seu jeito faz a sua maneira o protesto. Segundo Lúcia Teixeira (2005. Pág. 34) “Um grupo não nasce pronto, nem nasce ‘grupo’. Como a pessoa, ele precisa ser preparado e ‘convocado à vida’. Precisa ser ‘gestado’, para depois nascer como grupo, passar pelas diversas etapas de crescimento até chegar à maturidade.” O grupo é uma necessidade para o jovem.
Se no cotidiano vive-se um clima de nostalgia, no complexo das vidas não dá para embutir este pensamento achando que o hordieno tem que ser como no passado. Os jovens traduzem suas vidas para a realidade contemporânea e não pode ser medida pelo passado. Neste aspecto o que se pode traduzir na vida dos jovens é que se ele apresenta algum tipo de incoerência com os parâmetros estabelecidos pelos adultos, com certeza ele não recebeu do além, mas sim dos que rodeiam a eles.
O mundo contemporâneo também cria realidades que despontam situações adversas para os jovens, e que não se pode se desconsiderar. Quando se pauta a postura de “educar” o jovem, tem que se perceber que ele está marcado pela realidade que o cerca. Nesta perspectiva segundo Novaes & Vital (2006. P.112) se identifica três medos distintos na juventude; o de viver desconectado devido às inúmeras tecnologias que aparecem no dia, o medo de sobrar devido à falta de trabalho e mão de obra especializada exigida, e o medo de morrer em decorrência da violência perpetrada no cotidiano da sociedade.
Todo este enlace em relação à juventude traz uma necessidade de compreender a juventude em todos os aspectos. Desta maneira não podemos ver a realidade juvenil apenas como um olhar sociológico, biológico ou psicológico.
Se na educação não partimos em ver o todo no jovem ele passará de um educando para um problema. E o problema por mais que se revele naqueles que sobressaem, deixamos de notar a riqueza presente nos outros e que são chaves no processo de compreensão realidade.
A visão sociológica da juventude permeia a configuração de que ela é uma parte da sociedade e que precisa ser encarado como um fato sociológico, e que por existir assim precisa de políticas que contemple sua realidade. Para esta visão a juventude é um grupo social que busca a construção da cultura e da história.
A visão biológica ou psicológica determina que os diversos impasses vividos pela juventude sejam apresentados pelo viés psicológico que ele se encontra, é fruto da ação biológica contida em qualquer ser humano. Daí vem todas as respostas para as suas atitudes. O jovem nesta visão perfaz um caminho que bem orientado não trará dificuldades nos seus amadurecimentos. Toda orientação bem colocada fará dele no futuro um adulto saudável. O risco neste contexto é fazer do jovem como alguém a ser domesticado, e não respeita a sua característica individual. O seu comportamento está relacionado a posturas de distúrbios ou controles que a psicologia tende a caracterizar “próprio” da idade.
Há ainda nestas perspectivas uma grande discussão sobre idade e realidade da juventude na construção histórica na sociedade e as diferenças que podem marcar no contexto histórico mundial as relações que isto pode ter.
Para compreender por isso a realidade juvenil identificamos que a juventude é uma realidade transitória, eles estão na esfera da marginalidade da sociedade e dos grupos instituídos e dos grupos de decisão, são adaptáveis a viver a situação atual e está nela a potencialidade da mudança, são estritamente solidários, mas questionadores do mundo adulto. (DICK, 2003)
A este contexto percebe-se que na escola pouco se reflete sobre a realidade juvenil, e muito pouco procura se compreender sobre este universo que puja todos os dias ante os educadores.

A educação como paralelo de mudança

Hoje na sociedade está pertinente uma discussão que busca o resgate da educação. Sente em todas as esferas que a mudança na sociedade só virá com uma educação de qualidade. Neste intuito e que muito se focou para a mudança nos últimos anos. Não se pode negar que o governo federal tem dado algum crédito para que houvesse uma mudança. Também se compreendeu que ela é lenta e gradativa.
Nos últimos anos, a educação no Brasil começou a ser pautada com mais responsabilidade pelos governos estadual e federal. Vê-se, com clareza, que houve mudanças nas posições dos mesmos, principalmente na questão do financiamento público para aprendizagem e para a formação continuada do professor, como por exemplo os diversos cursos ofertados pela Universidades Federais, o PDE para os professores concursados, a plataforma Paulo Freire que amplia horizontes para novos professores entre tantos outros benefícios. Ainda assim, falta muito para que a educação atinja um alto nível e trate o jovem com o esmero que tal realidade social exige.
Entre tantas coisas que a educação deseja promover está a formação humana integral. Algumas disciplinas vieram para corroborar o processo, como a sociologia e a filosofia e até mesmo o ensino religioso, que deveriam trabalhar interdisciplinarmente. Todavia, isso ainda não acontece, pois o ensino da filosofia, sociologia e outras disciplinas acabam caindo no amálgama de preparar esses educandos para o vestibular, e o ensino religioso funciona como um estudo confessional. O primeiro passo notado é a democratização do acesso as universidades. O programa PROUNI realizou o sonho de muitos jovens de baixa renda a chegar a cursar uma faculdade. Isto é importante, pois aumenta o numero de profissionais com gabarito para atuação no mercado de trabalho, por sua vez aumenta a escolaridade das pessoas de baixa renda.  A possibilidade de educadores poderem terminar sua formação, ou ainda especializar-se nas suas áreas foi uma oura notoriedade deste governo. A ampliação de polos de educação a distância também trouxe oportunidades para muitos brasileiros.
Importante marcar o aspecto descrito acima, pois, se na educação está a substancia da mudança, o ensino superior é o arauto para este processo. Analisando a perspectiva da educação do ensino superior, a partir do conceito de deuteroaprendizado segundo o pensamento de Gregory Bateson, Baumman (2008. Pag. 161) afirma que:
“Sob tais circunstâncias, o ‘aprendizado terciário’ – aprender a quebrar a regularidade, a livrar-se dos hábitos e a prevenir a habitualidade, a rearrumar experiência fragmentárias em padrões até agora não familiares, tratando todos os padrões como aceitáveis apenas ‘até segundo aviso’ -, longe de ser uma distorção do processo educacional e um desvio do seu verdadeiro objetivo, adquire um valor adaptativo supremo e se torna crucial para o que é o indispensável ‘equiparamento para a vida”
Uma nação que não apostar na educação superior da sua juventude, tenderá a ficar a mercê de não ver a quebra de paradigmas se efetuar dentro o meio pensante da sociedade.
Diante de tantas realizações na ultima década ainda vimos aprovado o teto mínimo do salario do professor, que os governos na sua maioria não respeitam, e a busca de uma qualidade no ensino fundamental e médio, com diversas formas de avaliação.
Neste meandro quer-se pensar conjuntamente sobre a educação e a realidade juvenil. A pedagogia freireana é mais um componente na formação da aprendizagem dos nossos adolescentes e jovens. Nesse método, está intrínseca uma metodologia que leva não só à aprendizagem, mas também à formação do indivíduo enquanto ser humano plenamente realizado.  Tal formação torna o educando um  indivíduo com criticidade suficiente para cuidar de si e de seu entorno. Neste aspecto, o sujeito vem ser protagonista de sua história com capacidade de transformar o meio onde vive pela consciência adquirida no processo de reflexão e que determinará o próprio sucesso. Segundo Freire (2005p.73), “A desproblematização do futuro, não importa em nome de quê, é uma violenta ruptura com a natureza humano-social e historicamente construindo-se.” É no processo educacional e na busca de ser protagonista que o sujeito se torna autônomo para tomar as decisões  de que pode vir a depender o seu futuro, contudo, essa conduta já marcou o seu presente, pois, isto é intrínseco à educação - Freire assim diz,  (2005, p. 109):

Quando falo de educação como intervenção, me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito de trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que, pelo contrário, racionariamente pretende imobilizar a História e manter a ordem injusta.

Hoje, uma das maiores dificuldades em sala de aula  com alguns alunos indisciplinados é conduzi-la alinhadamente. Tais alunos não são, necessariamente, jovens adolescentes em conflito com a lei, mas são desconexos, isto certamente por causa das difíceis relações humanas,  em âmbito familiar e de amizades, que são reflexos normais da  idade. Muitas vezes são vítimas da sociedade e do sistema escolar que não dispõe de quadros competentes para tratar tais situações.

Na trajetória de socialização que vivenciam os jovens desde sua infância até a sua autonomia pessoal, veem-se mergulhados simultaneamente a um sem–número de contextos culturais e redes de sociais preexistentes – família, amigos, companheiros de curso, meios de comunicação, ideologias, partidos políticos, entre outras – dos quais selecionam e hierarquizam valores e ideais, estéticas e modas, formas de relacionamento ou convivência e vida, que contribuem para modelar seus pensamentos, sua sensibilidade e seus comportamentos. (LEON, 2004,p.15)

Outro fator verifica-se na estrutura de sociedade que imputa medos à juventude, tais como: medo da morte, devido à violência; de viver desconectado da forte rede de  comunicação que existe, e o medo de sobrar ante um mercado de trabalho escasso e exigente. Todos estes fatores permeiam e incidem na vida dos jovens e ao mesmo tempo têm influência diretamente no seu comportamento, quando suas estruturas não estão  bem solidificadas. (NOVAES & VITAL, 2006. p.112)
Estes adolescentes e jovens têm alguns perfis quase sempre semelhantes. Muitos acabam entrando na rebeldia, violência, e no uso de drogas lícitas e ilícitas. Por uma perspectiva não muito favorável, são indisciplinados em aula, apesar de terem um potencial de aprendizado, não conseguem usar o mesmo, acabam tornando-se repetentes, e apontados como os causadores de problemas em sala.
Segundo Dick (2003), pulsa na juventude um valor sobrenatural de contestar. Durante a história, esses gritos foram silenciados, mas transformaram a sociedade. Na verdade, foram a provocação e a astúcia juvenil que proporcionaram mudanças na sociedade. Sendo assim, a melhor maneira de formar o jovem não é tratando-os como problema, mas ajudando-os a perceberem a sua força vital e fazer uso disto  para transformarem  suas realidades. Neste contexto, acredita-se que a formação humana destinada ao adolescente jovem poderá servir para resgatá-lo, para que possa vir a cumprir um papel de autonomia na sua vida e na sociedade.
Existem paradigmas no tratamento das políticas públicas para a juventude, eles coexistem de maneira a estar presentes nas mesmas instituições. Definem-se quatro paradigmas, a juventude como etapa preparatória, problemática, revolucionária e autônoma. Nesta perspectiva, o Brasil está se afirmando, a última que é a visão do jovem enquanto sujeito de sua história, uma realidade social e sujeito passíveis de estarem usufruindo de políticas sociais desenvolvidas não pelas suas mazelas, mas porque é cidadão e a elas têm direito. (ABRAMO, 2004. p. 20 -22)
Nos últimos anos, a juventude tem sido um desafio para todos os âmbitos da sociedade. As instituições e organizações de trabalho com jovens veem a cada dia vislumbrar em seus olhos um horizonte de mistério. Em uma sociedade onde predomina a juventude, há que se estar atento, pois o futuro passa, necessariamente, por ela.
Podemos nos perguntar se há alguma fórmula que conjeture um processo de crescimento para estes jovens poderem desfrutar desse horizonte. O trabalho com esses estudantes, quando feito buscando o crescimento de forma integral, vai para além das respostas que encontramos no convívio com os eles. É um repensar de ideias, práticas, dinâmicas, conceitos, relacionamentos, valores, entre tantas outras coisas que podem surgir neste ideário que se coloca a nossa frente.
Por conseguinte, um primeiro processo viável para poder imaginar o jovem num paralelo existencial diferenciado, é apostar na vivência grupal. O grupo  direcionado para a formação, bem constituído, leva-nos a crer em um amadurecimento integral das dimensões humanas na vida do jovem.


[1] Esta obra é um imenso estudo sobre as conspecções que forjaram o capitalismo.
[2] O termo igreja usado aqui está na perspectiva da teologia ecumênica que distingue religiões e igrejas. Compreendem-se por religião as grandes crenças e que tem uma teoria sobre Deus, assim são religião o cristãos, os mulçumanos, os judeus, budistas, os hinduístas etc... já igrejas são as divisões dentro destas religiões, assim são igreja os católicos, os evangélicos, os protestantes etc...
[3] Precisa-se deixar claras aqui algumas diferenciações, quando estamos falando igreja históricas, está se referindo a religião cristã presente em grande parte da população brasileira. Igrejas históricas é a nomenclatura usada para referir-se a um grupo que segue uma determinada religião (cristã, islâmica, judaica, etc.), mas com parâmetros diferentes para os cultos, regras e outras situações. No caso do cristianismo essas igrejas foram que surgiram na reforma e contra reforma no séc. XVI, com Lutero.
[4] De agora em diante denominaremos para Igreja Católica Romana a abreviação ICAR.
[5] Teólogo suíço e presidente da Fundação Ética Mundial, com sede em Tübing, Alemanha, professor afastado da universidade pelo vaticano devido as suas posições teológicas.
[6] Palestra proferida por Hans King, para um grupo de teólogos e professores de teologia na Universidade Rio dos Sinos, julho de 2008.
[7] Em uma entrevista no auge da crise, o Presidente Lula usou esta analogia para não preocupar os setores da economia no Brasil.
[8] De agora em diante se ira referir somente FSM
[10] Slogan permanente do FSM.

O Imperativo Categórico - Immanuel KANT



[Do livro: KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro:  Companhia Editora Nacional, s/ data, pp. 17-23]

Todas as coisas na natureza operam segundo leis. Apenas um ser racional possui a faculdade de agir segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou, por outras palavras, só ele possui uma vontade. E, uma vez que, para das leis derivar as ações, é necessária a razão, a vontade outra coisa não é senão a razão prática. Quando, num ser, a razão determina infalivelmente a vontade, as ações deste ser, que são Reconhecidas objetivamente necessárias, são necessárias também subjetivamente; quer dizer que então a vontade é uma faculdade de escolher somente aquilo que a razão, independentemente de toda inclinação, reconhece como praticamente necessário, isto é, como bom. Mas se a razão não determina suficientemente por si só a vontade, se esta é ainda subordinada a condições subjetivas (ou a certos impulsos) que nem sempre concordam com as condições objetivas; numa palavra, se a vontade não é em si completamente conforme à razão (como acontece realmente com os homens), então as ações reconhecidas necessárias objetivamente são subjetivamente contingentes, e a determinação de uma tal vontade conformemente a leis objetivas é uma coação; por outras palavras, a relação das leis objetivas com uma vontade não completamente boa é representada como sendo a determinação da vontade de um ser racional por meio de princípios da razão, aos quais entanto aquela vontade, mercê de sua natureza, não é necessariamente dócil.
A representação de um princípio objetivo, na medida em que coage a vontade, denomina-se mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se IMPERATIVO.
Todos os imperativos são expressos pelo verbo (dever e indicam, por esse modo, a relação entre uma lei objetiva da razão e uma vontade que, por sua constituição subjetiva, não é necessariamente determinada por essa lei (uma coação)- Declaram eles, que seria bom fazer tal coisa ou abster-se dela, mas declaram-no a uma vontade que nem sempre faz uma coisa, porque lhe é apresentada como boa para ser feita. Portanto, praticamente é bom o que determina a vontade por meio de representações da razão, isto é, não em virtude de causas subjetivas, mas objetivamente, quer dizer por meio de princípios que são válidos para todo ser racional enquanto tal. O bem prático é, pois, distinto do agradável, isto é, do que exerce influxo sobre a vontade unicamente por meio da sensação, por causas puramente subjetivas, válidas apenas para a sensibilidade deste e daquele, e não como princípio da razão, válido para todos[1]. Uma vontade perfeitamente boa estaria, pois, tão sujeita ao império de leis objetivas (leis do bem) quanto uma vontade imperfeita; mas nem por isso poderia ser representada como coagida a ações conformes à lei, porque, mercê de sua constituição subjetiva, ela só pode ser determinada pela representação do bem. Eis por que não há imperativo válido para a vontade divina, e em geral para uma vontade santa; o dever não tem aqui cabimento, porque o querer já por si é necessariamente concorde com a lei. Por isso, os imperativos são apenas fórmulas que exprimem a relação entre as leis objetivas do querer em geral e a imperfeição subjetiva da vontade deste ou daquele ser racional, por exemplo, da vontade humana.
Ora, todos os Imperativos preceituam ou hipoteticamente ou categoricamente. Os imperativos hipotéticos representam a necessidade de uma ação possível, como meio para alcançar alguma outra coisa que se pretende (ou que, pelo menos, é possível que se pretenda). O imperativo categórico seria aquele que representa uma ação como necessária por si mesma, sem relação com nenhum outro escopo, como objetivamente necessária.
Dado que toda lei prática representa uma ação possível como boa é, conseguintemente, como necessária para um sujeito capaz de ser determinado praticamente pela razão, todos os imperativos são fórmulas, pelas quais é determinada a ação que, segundo os princípios de uma vontade de qualquer modo boa, é necessária. Ora, quando a ação não é boa senão como meio de obter alguma outra coisa , o imperativo é hipotético; mas, quando a ação é representada como boa em si, e, portanto, como necessária numa vontade conforme em si mesma a razão considerada como princípio do querer, então o imperativo é categórico.
O imperativo indica, pois, qual ação, para mim possível. I seria boa, e representa a regra prática em relação com uma vontade que não executa imediatamente urna ação porque é boa, em parte porque o sujeito não sabe sempre se ela é boa, e, em parte, porque, mesmo que o soubesse, suas máximas poderiam, não obstante, ser contrárias aos 'princípios objetivos de uma razão prática.
O imperativo hipotético significa, portanto, apenas, que a ação é boa com relação a um escopo possível ou real. No primeiro caso, é um princípio PROBLEMÀTICAMENTE prático; no segundo caso, é um princípio ASSERTORICAMENTE prático. Pelo contrário, o imperativo categórico, que declara a ação como objetivamente necessária por si mesma, sem relação com algum fim, isto é, sem qualquer outro fim, tem o valor de princípio APODÍCTICAMENTE prático.
Podemos imaginar que tudo quanto é possível apenas pelas forças de algum ser racional é também um escopo possível para qualquer vontade; por isso, os princípios da ação, enquanto esta é representada como necessária para a aquisição de algum fim possível, susceptível de ser por ela realizado, são, de fato, infinitos em número- Todas as ciências têm uma parte prática, constante de problemas que supõem que qualquer fim é possível para nós, e de imperativos que indicam como tais fins podem ser alcançados. Estes imperativos podem, por isso, chamar-se em geral imperativos da HABILIDADE. Não se trata, neste caso, de saber se o escopo é racional e bom, mas só de saber o que se deve fazer para o alcançar. As prescrições que um médico segue para curar radicalmente o seu enfermo, e as do envenenador para o matar seguramente, têm igual valor, na medida em que umas e outras servem para realizar perfeitamente o escopo que se tem em vista.
Como nos primeiros anos da juventude ignoramos as surpresas que a vida nos reserva no porvir, os pais empenham-se principalmente em que os filhos aprendam quantidade de coisas diversas, e cuidam em que eles se tornem hábeis no uso dos meios necessários para alcançarem toda sorte de fins desejáveis. São eles incapazes de saber se algum desses fins virá a ser, mais tarde, realmente desejado por seus filhos, mas ê possível que isso aconteça um dia; e esta preocupação é tão grave, que eles comumente se descuidam de formar e corrigir o juízo dos filhos acerca do valor das coisas que estes poderiam propor-se como fins.
Há, todavia, um escopo, que se pode supor real para todos os seres racionais (na medida em que os imperativos se aplicam a estes seres considerados como dependentes); portanto, um escopo que eles não só podem propor-se, mas do qual se pode certamente admitir que todos o propõem a si efetivamente, em virtude de uma necessidade natural, e este escopo é a felicidade. O imperativo categórico, que apresenta a necessidade prática da ação como meio para alcançar a felicidade, é ASSERTÓRIO. Não podemos apresentá-lo simplesmente tomo indispensável à realização de um fim incerto, puramente possível, mas de um fim que se pode seguramente e a priori supor em todos os homens, porque faz parte da natureza deles. Pode dar-se o nome de prudência [2], com a condição de tomar este vocábulo em seu mais estrito significado! à habilidade em escolher os meios que nos proporcionam maior bem-estar. Sendo assim, o imperativo que se refere à escolha dos meios capazes de assegurar nossa felicidade pessoal, isto é, a prescrição da prudência, é sempre hipotético; a ação é ordenada, não de modo absoluto, mas só como meio de alcançar outro escopo.
Enfim, há um imperativo que, sem assentar como condição fundamental a obtenção de um escopo, ordena imediatamente este procedimento. Tal imperativo é CATEGÓRICO. Diz respeito, não à matéria da ação, nem às consequências que dela possam redundar, mas à forma e ao princípio donde ela resulta; donde, o que no ato há de essencialmente bom consiste na intenção, sejam quais forem as consequências. A este imperativo pode dar-se o nome de IMPERATIVO DA MORALIDADE. [...]
O imperativo categórico é, pois, um só e precisamente este: Procede apenas segundo aquela máxima, em virtude da qual podes querer ao mesmo tempo que ela se tome em lei universal.
Ora, se deste só imperativo podem ser derivados, como de seu princípio, todos os imperativos do dever, embora deixamos de lado a questão de saber se aquilo, a que se dá o nome de dever, não é, no fundo, um conceito oco, poderemos todavia, ao menos, mostrar o que entendemos por isso e o que este conceito pretende significar.
Uma vez que a universalidade da lei, segundo a qual se produzem efeitos, constitui o que propriamente se chama natureza no sentido mais geral (quanto à forma), isto é, constitui a existência dos objetos, enquanto determinada por leis universais, o imperativo universal do dever pode ainda ser expresso nos termos seguintes: Procede como se a máxima de tua ação devesse ser erigida, por tua vontade, em LEI UNIVERSAL DA NATUREZA.

[1] A dependência da faculdade apetitiva a respeito de sensações denomina-se inclinação, e, por conseguinte, esta é sempre prova de uma necessidade. A dependência de uma vontade, capaz de ser determinada de modo contingente pelos princípios da razão, chama-se interesse. O interesse encontra-se, pois, tão somente numa vontade dependente, a qual não é por si mesma sempre conforme à razão; na vontade divina é impossível conceber qualquer interesse. Mas também a vontade humana pode tomar interesse por uma coisa, sem por isso agir por interesse. A primeira expressão significa o interesse prático pela ação; a segunda, o interesse patológico pelo objeto da ação. A primeira indica apenas a dependência da vontade a respeito dos princípios da razão em si mesma; a segunda, a dependência da vontade a respeito dos princípios da razão posta ao serviço da inclinação, no qual caso, a razão ministra somente a regra prática para poder satisfazer as necessidades da inclinação. No primeiro caso, interessa-me a ação; no segundo, interessa-me o objeto da ação (na medida em que me é agradável). Na Primeira Secção, verificamos que, numa ação executada, por dever, importa considerar, não o interesse pelo objeto, mas unicamente o Interesse pela própria ação e seu princípio racional (a lei).
[2] A palavra prudência é tomada em duplo sentido: no primeiro sentido, designa a prudência nas relações que lemos com o mundo; no segundo sentido, a prudência pessoal. A primeira indica a habilidade que um homem possui de aluar sobre outros, para deles se servir em benefício de seus fins. A segunda é a sagacidade em fazer convergir estes fins para sua vantagem pessoal e estável. A esta última se reduz propriamente o valor da primeira; e daquele que é prudente no primeiro sentido, não o sendo no segundo, com melhor razão se diria: é engenhoso e astuto, mas, em suma, imprudente.

domingo, 11 de abril de 2010

O mito do surgimento dos Deuses

O tempo
A pergunta crucial é: Como hoje os mitos influenciam nossas vidas?
Os mitos são um tipo de relato que envolve um povo. Cada povo tem suas vidas envolvidas pelos mitos. Uns exemplos são índios do marajoara no norte do Brasil. Para compreender como foram criados, há o mito da criação, que expressa como eles foram parar naquele recanto de beleza.
Dentre os mitos há uns seletos grupos de mitos que ainda hoje envolve o nosso cotidiano, quer em relação ao filosofar marcado pela filosofia clássica grega, quer seja pela nossa vivência diária. As vezes não nos damos conta de como está impregnada nossa vida de termos, palavras, entre outras coisas.
Há muito que a sociedade vive em busca de driblar o tempo. O “cronômetro” virou palavra de ordem na nossas vidas, pois temos hora para tudo, e afinal, tempo é dinheiro para um árduo capitalista.
Sim! Tudo na vida é marcada pelo tempo. O tempo rege a nossa vida. A figura do tempo rege nossa vida desde muito “tempo”. Para melhor entendermos essa questão vamos adentrar sinteticamente dentro de um mito: “Um velho mito grego conta que: Do Caos primordial surgiram a Noite (Nix) e as Trevas (Érebo). A Noite, unindo-se às Trevas, gerou o Amor (Eros), e, com o Amor nasceu a luz, a beleza e a ordem, o Dia e o Éter, que a abóbada superior e morada das divindades. Mas a Noite gerou também o Sono, os Sonhos, a Angústia, o Engano, a Ternura, a Velhice, a Discórdia, as Filhas do Entardecer, a Sorte, a Ira, o Sarcasmo, e as temíveis Moiras. As Moiras tecem o fio do destino tanto para os deuses imortais como para os mortais.
Do Caos emergiu também a Mãe Terra (Gaia), que gerou três filhos: o Céu (Urano), as Montanhas e o Mar (Ponto). O Céu uniu-se à Mãe Terra, da qual nasceram os Titãs, grandes e bondosos, mas também os Ciclopes, disformes e rebeldes. Urano os prendeu no Tártaro, o mundo subterrâneo. Mãe Terra confiou aos Titãs uma forma de libertar os filhos aprisionados no Tártaro, e foi o caçula – Cronos – quem aceitou, munido com o ferro que Terra lhe ofereceu, a tarefa de castrar o Céu quando esse se unisse à Mãe Terra. Desse embate violento, e do sangue do Céu salpicado sobre Terra, nasceram os Gigantes e as “Eríneas”, as vingadoras dos crimes. E do falo de Céu jogado ao Mar, nasceu Afrodite, que se uniu a Eros e foram morar no alto, na morada dos deuses, enquanto no mundo, no lugar do Céu, começou a reinar Cronos. Nunca mais uniu-se o Céu com a Terra desde que Cronos se tornou Senhor do Universo. Cronos casou com sua irmã titãnide Réia – aquela que corre veloz. Dessa união nasceram filhos, que Cronos devorou implacavelmente, agindo assim pior que o Céu, já que este só prendia no Tártaro os filhos disformes e rebeldes. Réia conseguiu que escapassem da voragem de Cronos o filho Zeus e seus irmãos, Hades e Poseidon, tirados do ventre de Cronos pelo próprio Zeus para lutar contra o pai comum, Cronos. Depois de muito desdobramento na luta interminável entre Cronos e Zeus, Cronos é detido numa torre com a esposa Réia, a deusa que corre veloz. Mas Cronos continua sua soberania, ainda governa sobre os mortais, enquanto Zeus toma para si o abismo celeste, ganhador do trovão e do raio, Poseidon vai reinar no abismo das águas com seu tridente, capaz de maremotos, e Hades habita o abismo da terra, soberano dos mortos. Ora, “cronos” é uma das palavras que utilizamos para falar de “tempo”. O tempo cronológico devora qualquer criação sua, por mais sólida e bela que seja. Tudo está submetido ao tempo, é uma questão de tempo para chegar ao fim. Os que pretenderam a imortalidade pagaram, de qualquer forma, um alto preço, o recuo para abismos onde invejam a felicidade, ainda que efêmera, cronologicamente veloz e finita, dos mortais.”[1]
Somos devorados pelo tempo, e assim temos que julgar rápido para que nossa liberdade não fique preso ao tempo que corre veloz. Somo tomados cotidianamente pelo cronos, e não percebemos o quanto “réia” a nossa vida.
O tempo é frequentemente metaforizado no caminho do peregrino. Somos peregrinos “do” Tempo ou “peregrinos do Absoluto” (diário de Leon Bloy) exilados ou em êxodo no tempo?
“Ahí está el justo momento
De pensar en el destino.
Si el hombre es un peregrino:
O busca amor y querencia,
O si cumple la sentencia
De morir en los caminos.
(En el Camino. Atahualpa Yupanqui)



[1] Texto enviado por email pelo Professor Luis Carlos Susin da Pontifícia universidade Católica do Rio Grande do Sul, O texto foi citado em sala de aula.

A Águia e a Galinha

A Águia e a Galinha
Uma metáfora da condição humana

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha.

Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar ás alturas.

- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

- já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

- Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia.

E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:

-Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:

-Eu lhe havia dito, ela virou galinha!

- Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre se mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...

E Aggrey terminou conclamando:

- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

texto extraído do livro de :BOFF, Leonardo. A águia e a galinha, a metáfora da condição humana. 40 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.